MONTAIGNE E OS CANIBAIS




MONTAIGNE (1533-1592)

Escreve ao longo de 25 anos a sua obra prima: Os Ensaios.

Estabelece que a razão humana não é capaz de provar o que quer que seja. (ceticismo)

O que geralmente chamamos o valor das coisas não é o que elas carregam, mas o que nós colocamos nelas.

Escreve sobre vários assuntos sempre partindo do seu ponto de vista.

No que diz respeito às diferentes culturas ele escreve:

"Cada um de nós chama de barbárie aquilo que não faz parte de seus costumes".

Antecipa no século XVI as questões do etnocentrismo colocadas por Lévi-Strauss no século XX.
(LIVRO DIDÁTICO: págs. 33 a 38)

Montaigne depois de ter conversado com índios carijós levados da região sul do Brasil para a França, conclui que não há nada de bárbaro entre os indígenas e desenvolve o ensaio "Dos Canibais" para criticar os próprios europeus. Não que ele defenda o canibalismo, mas para dizer quem somos nós para criticá-los, quando no meio dito "civilizado", pessoas são queimadas vivas nas fogueiras da Inquisição e vizinhos são executados (v. "Noite de São Bartolomeu", procure na Internet ) com suas famílias simplesmente por pertencerem a uma religião diferente, isto sem contar as torturas mais cruéis possíveis, como jogar óleo fervendo goela abaixo das vítimas e, tudo isso em nome do "Bom Deus" e da religião. Lá, entre os ameríndios, pelo menos matam a pessoa antes de devorá-la.





"A Noite de São Bartolomeu" (23 e 24/08/1572) as famílias protestantes eram arrancadas de suas casas e executadas nas ruas de Paris.


Abaixo uma vídeo-aula com um resumo sobre a vida e obra de Montaigne:


Chico Buarque se inspira em Montaigne para compor uma música ("Porque Era Ela, Porque Era Eu"), trilha sonora do filme "A Máquina (2005)". Veja a explicação dele com cenas do filme:



Como vimos em sala de aula, Hans Staden,  é um personagem praticamente desconhecido da história do Brasil em termos populares, e, no entanto, parece estar presente em todo o processo germinativo daquilo que viria a ser o Brasil. Esteve ao lado de figuras como Tomé de Souza, Padre Anchieta, Padre Manoel da Nobrega e, também, de importantes líderes indígenas. Fez uma das primeiras descrições da "Terra de Vera Cruz" ou "Pindorama" e, ao mesmo tempo, é realista e assombrosamente surrealista, esse é o Brasil. É uma definição assustadoramente atual (e talvez nunca deixe de sê-la) para esse recanto nos trópicos.

Influenciou também o modernismo brasileiro que com o "Manifesto Antropófago"trouxe a arte brasileira para um outro patamar. Oswald de Andrade foi o autor do manifesto; Tarsila do Amaral com o seu "Abaporu"  que  na linguagem tupi significa "comedor de gente" e Mario de Andrade com "Macunaíma, o herói sem nenhum caráter", todos buscam, cada um a seu modo, explicar o que faz do Brasil, o Brasil, e o resultado é a antropafagia, o canibalismo, somos devoradores de tudo, das culturas mais diversas, o que nos faz ser todos e nenhum ao mesmo tempo.

Nos anos 60, essa comilança se espalharia por meio das ondas sonoras para todo o Brasil e além nas vozes de Caetano Veloso, Gilberto Gil, Os Mutantes, Tom Zé, o maestro Rogério Duprat, o poeta Torquato Neto e outros com o "Movimento Tropicalista".

Na primeira ilustração desse post, esta lá Hans Staden, perplexo, diante do... (eu ia quase dizendo festim diabólico) almoço... ou janta (tudo depende do fuso horário), está lá, parece que fazendo uma previsão que não ocorrerá, as suas entranhas sendo deliciosamente devoradas em forma de churrasco ou ensopado, imaginando o sabor que ele próprio teria na boca dos tupinambás. Segundo Oswald de Andrade, o Bispo Sardinha que escapou do naufrágio mas não do banquete, foi quem forneceu o primeiro tempero para essa salada inesperada... e parece que foi bom!

Esse é o Brasil, venha, coma o seu pedaço, nem é preciso sair de casa!

 (1525-1576)

Obra publicada em 1557

 Oswald de Andrade (1928)

 "ABAPORU" o comedor de gente (Tarsila do Amaral, 1928)

(1928)

(1968)

Fontes:
LIVRO DIDÁTICO (Vários autores); Filosofia: Temas e Percursos; Barlendis & Vertechia Editores, São Paulo, 2016
MONTAIGNE, M.; Ensaios; Nova Cultural, São Paulo, 1996
STADEN, Hans. Duas Viagens ao Brasil
TV Poliedro

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