TRABALHO EXTRA 1 (3º ANO): Como enfrentar a infelicidade (Sêneca)
O destino e a deusa Fortuna
Sêneca (4 a.C. – 65 d.C) foi um estadista
romano e um dos principais divulgadores do estoicismo. No texto abaixo, ele
reflete sobre os modos de enfrentar as adversidades orientando-se para uma vida
boa ou feliz.
“1. Eis, sem
saber, caíste numa situação de vida difícil. A adversidade pública ou privada
colocou um laço em teu pescoço. Não consegues afrouxá-lo nem rompê-lo de vez.
2. Lembra-te: Os prisioneiros, só no começo, ficam aflitos com as
algemas e os grilhões. Com o tempo, quando eles resolvem não mais se irritarem
e decidem suportar, então ficam resignados. É quando advém o hábito e tudo se
torna fácil. Realmente, em qualquer situação de vida encontrarás distrações,
descanso e prazer, desde que queira avaliar como leves os teus males, em vez de
tê-los como insuportáveis.
3. Estamos
todos algemados ao destino. Para alguns as algemas são de ouro e frouxas, para
outros, são apertadas e sórdidas. Que diferença isso faz?
A mesma
guarda cerceia a todos, quer os algemados, quer os que algemam, salvo se no teu
parecer são mais folgados os ferros no pulso esquerdo.
A uns a
honra e a outra a opulência prenderam. A uns a nobreza deprime, a outros a
obscuridade. Alguns dobram a cabeça sobre a tirania alheia, enquanto outros
sobre a própria. Alguns são retidos no mesmo lugar pelo exílio, outros pelo
sacerdócio. Enfim, a vida toda é servidão.
4. É
necessário saber acomodar-se à sua condição; queixar-se dela o mínimo possível;
captar tudo o que ela contém de favorável, já que nada é tão certo que uma alma
de bom senso não depare, aí, algum conforto.
Com
frequência, uma área pequena torna-se, pela arte do arquiteto, apta para muitos
usos e um recanto apertado se faz habitável.
Aplica a
razão às dificuldades. Então, coisas ásperas abrandam-se, sendo que fardos
carregados, de modo ajeitado, tornam-se leves.
5. Além do
mais, as nossas volúpias não devem ficar projetadas para espaço inacessível.
Permitamos sim, que em nossa vizinhança, já que, de modo pleno, não são elas
passíveis de clausura.
Deixando de
lado, seja o que é impraticável, seja o que é excesso difícil, cuidemos de
fazer o que está à mão e corrobora nossas expectativas. Saibamos que todas elas
são transitórias, ainda que, exteriorizando diversidades, no íntimo, são mesmo
voláteis.
Também não
invejemos a sorte de quem está em posição privilegiada. Aquilo que parece
altitude, na verdade, é boca de abismo.
6. Ao
contrário, aqueles aos quais a sorte malévola colocou em lugar indesejável
ficarão mais seguros cortando os arroubos de grandeza e assim conduzindo seu
destino tanto quanto possível ao nível da normalidade.
Muitos são
aqueles que deve se manter instalados no seu prestígio, do qual só podem sair
pela queda. Por essa razão devem demonstrar que pesam sobre os outros não
porque se deleitam em parar na altitude e, sim, porque a isso são coagidos.
Por isso,
por sua justiça, mansidão, senso humanitário, generosidade difusa, abasteçam
suas forças para enfrentar as adversidades do destino. Já tal esperança lhe
suaviza a insegurança.
Nada melhor
para proteger contra tais flutuações do espírito como colocar limites na
ambição de crescimento como ainda não deixar ao sabor da fortuna que ela edite
a última palavra.
Pode, sim,
ocorrer que sejamos incitados por certa cupidez, mas serão impulsos controlados
e nunca sem limites.”
SÊNECA, A
tranqüilidade da alma; Ed. Escala, p. 57-9, São Paulo.
ATIVIDADE
1. Segundo o texto, o que é
comum a todos os seres humanos?
2. Qual seria o papel da razão
no destino humano?
3. “Estamos todos
algemados ao destino.” Você concorda com essa frase? Ao responder à pergunta,
procure citar exemplos.
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