PENSAMENTOS SOBRE ÉTICA NO MUNDO CONTEMPORÂNEO

Ética das Emoções e dos Desejos
Armand Assante fazendo o papel de Nietzsche.
("Quando Nietzsche Chorou" - 2007) 

            Como vimos nas aulas, os gregos, a partir de Sócrates desenvolveram uma ética baseada na racionalidade, culminando com Aristóteles com uma ética baseada na virtude e moderação. Ética que depois marcou o Cristianismo com a sua ideia de dever e de um mundo superior no além.

No entanto, surgiu no século XIX, uma concepção ética, francamente contraria à racionalista, que contesta à razão o poder e o direito de intervir sobre o desejo e as paixões, identificando a liberdade com a plena manifestação do desejo, do instinto sobre a racionalidade. Essa concepção encontra-se em Nietzsche e em vários filósofos contemporâneos.

Embora com variantes, essa concepção filosófica pode ser resumida nos seguintes pontos principais, tendo como referência a obra nietzschiana A Genealogia da Moral:
·     -  A moral racionalista foi erguida com finalidade repressora e não para garantir o exercício da liberdade;
·      -  A moral racionalista transformou tudo o que é natural e espontâneo nos seres humanos em vício, falta, culpa e impôs a eles, com os nomes de virtude e dever, tudo o que oprime a natureza humana;
·      - A moral racionalista foi inventada pelos fracos para controlar e dominar os fortes, cujos desejos paixões e vontades afirmam a vida, mesmo na crueldade e na agressividade. Por medo da força vital dos fortes, os fracos condenaram paixões e desejos, submeteram a vontade à razão, inventaram o dever e impuseram castigos aos transgressores;
·       - A moral dos fracos é produto do ressentimento, que odeia e teme a vida, envenenando-a com a culpa e o pecado, voltando contra si mesma o ódio à vida;
·      - A moral dos ressentidos, baseada no medo e no ódio à vida, inventa uma outra vida, futura, eterna, incorpórea, que será dada como recompensa aos que sacrificarem seus impulsos vitais e aceitarem os valores dos fracos.

Para esses filósofos, que podemos chamar de antirracionalistas, a moral racionalista ou dos fracos e ressentidos que temem a vida, o corpo,  o desejo e as paixões é a moral dos escravos, dos que renunciam a verdadeira liberdade ética.

Moral dos Escravos: São exemplos dessa moral de escravos: a ética socrática, a moral kantiana, a moral judaico-cristã; a ética da utopia socialista, a ética democrática, em suma, toda moral que afirme que os humanos são iguais, sejam por serem racionais (Sócrates, Kant); seja por serem irmãos (religião judaico-cristã), seja por possuírem os mesmos direitos (ética socialista e democrática). Contra a concepção dos escravos, afirma-se a moral dos senhores, ou a ética dos melhores, a moral aristocrática, fundada nos instintos vitais, nos desejos e naquilo que Nietzsche chama de Vontade de Potência, cujo modelo se encontra nos guerreiros belos e bons das sociedades antigas, baseadas na guerra, nos combates e nos jogos, nas disputas pela glória e pela fama, na busca da honra e da coragem.  

Racionalismo Humanista

Karl Marx (1818-1883)


Marx afirmava que os valores da moral vigente – liberdade, felicidade, racionalidade, respeito à subjetividade e à humanidade de cada um, etc.  – eram hipócritas não em si mesmos (como julgava Nietzsche), mas porque eram irrealizáveis e impossíveis numa sociedade violenta como a nossa, baseada na exploração do trabalho, na desigualdade social e econômica, na exclusão de uma parte da sociedade dos direitos políticos e culturais.

A moral burguesa, dizia Marx, pretende ser um racionalismo humanista, mas as condições materiais concretas em que vive a maioria da sociedade impedem a existência plena de um ser humano que realize os valores éticos. Para Marx, portanto, tratava-se de mudar a sociedade para que a ética pudesse concretizar-se.


Críticas semelhantes foram feitas por pensadores socialistas, anarquistas, utópicos, para os quais o problema não se encontrava na razão como poderio dos fracos e ressentidos contra os fortes, mas no modo como a sociedade está organizada, pois nela o imperativo categórico kantiano (“não faça para os outros, aquilo que não quer que eles façam para si mesmo”), por exemplo, não pode ser respeitado, uma vez que a organização social põe uma parte da sociedade como coisa (portanto, não são outros, são coisas), instrumento ou meio para a outra parte.

"O Marxismo curará todas as doenças" (Frida Khalo - 1935)


Textos adaptados: CHAUI, Marilena. "Iniciação à Filosofia", Editora Ática, São Paulo, 2012.


            Para Marx, o advento do comunismo era algo inevitável, decorrente do movimento da própria história. A sociedade comunista não nascerá e consequência de uma tensão ética ou utópica, de pregações moralistas, contra os desastres sociais produzidos pela propriedade privada, mas acabará inevitavelmente por se impor, como única solução possível do desenvolvimento histórico. Logo, a revolução proletária é absolutamente inevitável: não é um ato de justiça, porque a classe operária não tem qualquer ideal a realizar, mas o necessário resultado do devir real da história. O comunismo não é um ideal ao qual a realidade terá que se conformar, mas o movimento real que abole o estado de coisas existente. Segue abaixo um trecho do O Manifesto Comunista, texto escrito em 1848 em conjunto com Engels. 

"A sociedade não pode mais viver sob o domínio da burguesia, vale dizer, a sua existência não é mais compatível com a sociedade. A condição essencial para a existência e o domínio da classe burguesa é a acumulação da riqueza em mãos privadas, a formação e o crescimento do capital; a condição do capital é o trabalho assalariado. O trabalho assalariado baseia-se exclusivamente na concorrência dos operários entre si."


ATIVIDADE

1. Que críticas Nietzsche e Marx fazem á moral vigente na época em que viveram e em que ponto Marx discorda de Nietzsche?

2. Baseado no texto Ética das Emoções, explique de forma resumida e com suas palavras, o que Nietzsche quer dizer com a expressão Moral dos Escravos

3. Leia os textos sobre Marx e com isso faça uma análise da tela de Frida Kahlo. Escolha algumas imagens e explique-as baseadas nos textos. 

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