HUME E A QUESTÃO DO GOSTO (3º AB)


DAVID HUME (1711-1776)

A Regra do Gosto
Ensaios Morais, Políticos e Literários, XXIII



          A prática é tão útil para discernir a Beleza que, antes de poder julgar qualquer obra importante, sempre será necessário examiná-la cuidadosamente mais de uma vez e estudá-la sob diversos aspectos com atenção e reflexão.O primeiro exame de qualquer obra sempre se faz acompanhar de uma agitação, de uma pressa do pensamento que perturba o autêntico sentimento da Beleza: não se distingue bem a relação entre as partes... passando a ser rejeitada com descaso ou pelo menos considerada de valor muito inferior.


          É impossível dedicar-se assiduamente à contemplação de qualquer tipo de beleza sem que sejamos obrigados a estabelecer comparações, entre os diversos tipos de graus e de excelência, calculando sua proporção relativa. Quem nunca teve a oportunidade de confrontar os diversos gêneros de Beleza está absolutamente incapacitado de pronunciar um juízo a respeito de qualquer objeto que lhe seja apresentado. Somente através da comparação poderemos determinar os epítetos de aprovação e de crítica, aprendendo atribuí-los no grau adequado...

          

          A Beleza não é uma qualidade das próprias coisas; existe apenas no espírito que as contempla e cada um percebe uma Beleza diversa. Pode até acontecer de uma pessoa encontrar deformidade onde uma outra vê apenas beleza; e cada um deveria se satisfazer com seu sentimento sem pretender regular o dos outros. Procurar estabelecer uma beleza real, ou uma deformidade real, é uma busca tão infrutífera como procurar estabelecer o que é realmente doce ou amargo. Conforme a disposição dos órgão do corpo, o mesmo objeto pode ser doce como amargo, e tem razão o provérbio que reconhece que gosto não se discute. 


          É muito natural e até mesmo necessário estender este axioma ao gosto mental, além do gosto corpóreo; assim o senso comum, que tão frequentemente diverge da filosofia, sobretudo da filosofia cética, ao menos num caso concorda com ela ao proferir idêntica decisão. 


ATIVIDADES

1.) Os dois quadros abaixo retratam um tema comum nas artes plásticas conhecido como "Natureza Morta". Qual dos dois é mais belo? Justifique. Hume concordaria com sua justificativa? Por quê?

Século XIX (anônimo)

Século XX (Mondrian)
2.) A partir da leitura dos dois primeiros parágrafos do texto de Hume, o que podemos concluir à respeito da apreciação de uma obra de arte? 

3. ) Embora tendo vivido em épocas diferentes, Platão, Hume e Nietzsche, acabam estabelecendo um diálogo ou um debate no tocante ao que pensam à respeito da arte. Estabeleça uma relação de concordância e/ou discordância entre esses filósofos. 

4.) Hume conclui com a questão do gosto, dizendo que gosto não se discute. Você concorda com essa afirmação? No entanto, Hume,  estabelece padrões de gosto, como vimos nos dois primeiros parágrafos. Há uma contradição no texto completo? O que Hume quer dizer com tudo isto? 

5.) As telas abaixo, realizadas em épocas completamente diferentes, tratam da questão do tempo.
a. Faça uma análise da primeira tela e sua relação com a questão do tempo.
b. Faça uma análise da segunda tela estabelecendo relações com o tempo em relação à primeira tela, fazendo comparações entre as imagens que apresentam. 
c. Que ideias e/ou mensagens cada uma delas transmitem para a época em que foram realizadas? 
d. Que ideias e/ou mensagens transmitem que independem da época (são universais) em que foram realizadas? 


Giovanni Paolo Pannini, Galeria de vistas de Roma antiga, 1758. Paris, Museu du Louvre.
Lluis Barba (2012), Galeria de vistas de Roma moderna. Madri. 

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