PLATÃO: "O Banquete"

Platão - 428/347a.C. 

1. DIOTIMA: Nesses mistérios do amor, Sócrates, tu também pode ser iniciado. Quanto aos mistérios mais profundos e ao nível mais alto de revelação – se forem seguidos meticulosamente os graus intermediários, esses mistérios são a meta final do que foi dito antes - , não sei se estão ao teu alcance.
2. Na verdade, é preciso que aquele que retamente se encaminha em direção a essa meta comece desde jovem a voltar-se para a beleza dos corpos e, se o caminho indicado por quem lhe serve de guia estiver correto, a amar somente um corpo belo e para ele produzir belos discursos. Mas depois deve entender que a beleza que reside naquele determinado corpo é irmã da beleza que reside em um outro e que, se pretende buscar a forma sensível do belo, seria uma loucura não considerar única e idêntica a beleza que reside em todos os corpos.
3. Entendendo isso, deve amar todos os corpos belos e atenuar a intensidade do seu amor por um único corpo, corpo este que já pode desdenhar e levar em menor conta.
4. Em seguida, dará maior valor à beleza que reside nas almas e não no físico, e, assim, se houver beleza de alma em alguém que não seja propriamente um fúlgido exemplo de flor de juventude, ficará feliz em amá-lo em cuidar dele, em fazer para ele aqueles discursos que tornam melhores os jovens, de modo a ser levado, agora, a amar o belo que reside nas ocupações e nas regras da vida, e a perceber a sua própria afinidade com todas elas, até chegar a considerar a beleza física como coisa de pouca importância.

5. Depois das ocupações da vida, deve ser orientado em direção aos conhecimentos, para que perceba agora a beleza do saber e, voltando o olhar para a esfera agora ampla do belo, sem mostrar mais um apego exclusivo, como um escravo à beleza de um rapaz... eleve-se da baixeza e da mesquinhez de tal servidão e, dedicando-se principalmente à contemplação do imenso oceano do belo, produza um grande número de belos discursos e sublimes pensamentos inspirados por uma amor desinteressado pela sabedoria, até que, tornando-se mais forte e seguro, perceba finalmente um único conhecimento que se refere ao belo, do qual te direi agora. Tu, porém, esforça-te em dedicar toda atenção às minhas palavras.
6. Efetivamente, aquele que foi cuidadosamente orientado no caminho da instrução amorosa até contemplar os objetos belos como uma escala, ao chegar ao fim do seu aprendizado terá a visão resplandecente de uma beleza admirável por sua própria natureza, aquela beleza, ó Sócrates, em vista da qual se desdobraram todos os nossos esforços anteriores: uma beleza que, antes de tudo, é eterna, que desconhece nascimento e morte, que não aumenta nem diminui: e, em segundo lugar, que não é bela quando vista de um lado, e feia do outro... em suma, bela para alguns, e feia para outros.
7. E a beleza tampouco se apresentará como um rosto, por exemplo, como mãos ou qualquer outra parte do corpo; nem sob a aparência de um discurso ou de um conhecimento; nem como existente em algum lugar ou em um objeto distinto, por exemplo, em um ser vivo, na terra, no céu ou em qualquer outra coisa: apresentar-se-á como ela mesma, em si mesma, para ela mesma...
8. Assim, quando alguém, ao elevar-se deste mundo por meio de um reto amor pelos jovens, começar a distinguir esse belo terá então quase alcançado o ápice da ascese. Portanto, o ponto de partida são as coisas belas deste mundo, o ponto de chegada é o belo, até o qual subimos com a ajuda de, por assim dizer, degraus.
9. Partimos assim de um único corpo belo, passamos a dois e depois a todos os corpos belos; dos corpos belos elevamo-nos às belas obras e das belas obras aos belos conhecimentos, até que, partindo dos belos conhecimentos, chegamos enfim àquele conhecimento que não é outro senão o belo em si mesmo. Assim, no último degrau, alcançaremos o puro belo.
10. É neste momento da vida, caro Sócrates, mais do que em qualquer outro, que vale a pena estar vivo: na contemplação do belo em si! E se um dia acontecer de contemplá-lo, concluirás que ele não é comensurável com o ouro ou uma veste suntuosa, nem com os meninos ou jovens atraentes, cuja visão hoje te deixa estupefato e disposto (tu e tantos outros), se isso fosse possível, a ficar sem comer nem beber, para dedicar-se exclusivamente a contemplá-los e a permanecer em sua companhia.


QUESTÕES


01. No texto Platão apresenta o que ele entende por Beleza e conclui que há um tipo de beleza que é superior às outras. Que tipo de beleza é essa? Explique.

02.  Quais etapas é preciso passar para chegar à beleza superior?

03. Platão vê o amor por um belo corpo como algo positivo? Ele é necessário? Justifique.

04. Você concorda com a frase: “há mais valor na beleza que reside nas almas do que as que residem no físico?

05. Debata em grupo e escreva o resultado: A beleza de um corpo é algo relativo (depende do gosto de cada um), ou há uma beleza absoluta ( a mesma para todos) nos corpos belos? Justifiquem as posições de cada um.



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