REFLEXÕES SOBRE AS MENINAS DE VELÁZQUEZ





"As Meninas" Pintura de Diego Velázquez (1656)

Esta obra-prima tem muito a nos dizer sobre o eu e o outro, pois ela marca de forma definitiva a percepção de identidade do indivíduo moderno, como um ser que conduz e cria o seu espaço. O artista, no canto esquerdo olha para nós, ou olha para mim, ou olha para você? Estamos ali no lugar do modelo, daquele ou daquela que estão ali para serem retratados. Do fundo do seu passado ele olha nesta direção e, por um momento quase sobrenatural estou ali naquele aposento no qual aparentemente sou o foco das atenções. Mas, na verdade, entre eu e os outros sinto uma presença. Não consigo enxergar mas eles estão ali. O rei e a rainha da Espanha diante da princesa que na verdade é o motivo da tela, cercada pelas pagens e pelos anões, um cachorro que descansa ali também tranquilamente sendo incomodado por um dos anões. Na fundo da tela vemos a imagem do rei e da rainha refletida no espelho. Estão ao meu lado? Ou estão num outro espaço entre o próprio quadro e a distância que há entre eu e o quadro? Dá para sentir a presença deles, como fantasmas, mas não os vejo diretamente. É tudo um jogo. O artista me encara, olha para um futuro eterno, eu olho para um passado sempre atualizado com a minha presença. Para o artista eu sou o outro. Para mim, o artista é o outro que me comunica, de lá do passado a sua presença eternizada pelo seu próprio ato de pintar, pelo menos enquanto existir essa imagem. Ao representar ele e os outros, deixa entre eu e eles uma relação de cumplicidade, ainda que ele e eles nunca saibam quem são os outros, ou quem sou eu, a tela foi pintada para ser olhada, por mim e pelos outros. Na verdade ele me coloca dentro de sua cabeça e por ela me faz ver o outro que sou eu mesmo. Na porta do fundo, atrás do casal, há alguém que não sei se está entrando ou saindo. Estará ele do outro lado na mesma situação que estou deste? Estará ele indeciso? Observando o que há de vir? Como essa história continua? Como continua a minha história? As meninas estão no centro, mas o centro está em toda parte e em parte nenhuma. 

Estas reflexões servem para embasar a aula EU E O OUTRO que apresento no meu Podcast:

No YouTube, no meu canal, dou uma explicação sobre a atividade a ser realizada:



Segue abaixo um link para o filme "O Enigma de Kaspar Hauser" do qual trato na aula:



Bibliografia:
FIGUEIREDO, Vinícius de (org.) Filosofia: Temas e Percursos. São Paulo. Berlendis & Vertecchia Editores, 2016.




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